Saudades dos tempos de criação humorada na sala de aula.
Para compreender o texto, é preciso, primeiro, ver o curta-metragem.
Sempre
tive problema na hora de acordar, pela manhã. Desde criança. Mas naquele tempo
havia a minha mãe com um chinelo na mão servindo de despertador. Era infalível:
nunca perdi o transporte escolar. Hoje,
não. Hoje é um suplício acordar a tempo de ir trabalhar. Comprei um aparelho de
som com alarme embutido. Toca exatamente às sete horas. Mas fica perto da cama
e é só esticar o braço e desligar. Também tem o alarme do celular. Toca segundos
depois que desligo o aparelho de som, mas tem a desvantagem de ficar na minha
cama. Não preciso fazer esforço para desligá-lo. Por precaução, coloquei um
despertador analógico na minha escrivaninha. Daqueles que fazem um barulho
enorme e acorda o quarteirão inteiro. Sou obrigado a me levantar para
desligá-lo. Sou?! Quem disse? Durmo com
um revólver ao lado. Pego o três oitão, miro no danado e, bam! Em seguida é só
silêncio. Volto a dormir o sono dos justos. Nada haverá de interromper o meu
sossego. Nada?! Os alarmes fazem revolução. São da esquerda. Acordam-me com o
refrão bolchevique: “Alarmes, unidos, jamais serão vencidos!” Durma-se com um
barulho desse! Arrasto-me até o armário onde um despertador renitente abusa da
minha paciência. Vou até o banheiro escovar os dentes. Sou acordado por outro
despertador comunista colocado no armário do banheiro. Isso é complô contra o
descanso alheio!
A
campainha toca. É o leiteiro. Apesar de haver uma placa indicando o local onde ele
deve colocar a garrafa de leite, sempre coloca ao lado da porta. E, de todas as
portas do mundo, esta minha é a única que abre para fora.
A
garrafa do leite rola pelo corredor. Sou alérgico a frieza e o chão está frio.
E eu, descalço. Penduro-me na porta e forço a sua abertura com os pés. Pego o
leite e vou para a cozinha. Preparo um sanduíche e, enquanto ele esquenta, eu
durmo. Sou acordado repentinamente pela sanduicheira. Pego o leite, o sanduíche
e vou para o sofá. Vejo tevê enquanto como. Nem como nem vejo tevê. Durmo.
Acordo assustado com um relógio colocado em cima do aparelho da televisão.
Corro para travá-lo antes que ele toque. Tropeço no leite e caio. O despertador
toca. Desligo. Volta a tocar. Retiro a sua pilha. Vou para o quarto trocar de
roupa. Outro despertador toca. Arrebento-o na parede.
No
elevador volto a cochilar. Um despertador alarma ininterruptamente. Procuro nos
bolsos, nas paredes do elevador, olho para o espelho e vejo que é o meu próprio
cabelo alarmando. Olho incrédulo e atônito. O som aumenta. Desespero-me e
acordo assustado com o barulho no meu quarto. Puxa! Foi só um sonho! Sonho?! Pego
o revólver, miro o despertador e...
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