As
crônicas que usamos caracterizam-se como textos bem construídos, pois
identificamos nelas os fatores de textualidade, quer no aspecto formal, quer
nas relações sintáticas e na situação pragmática. Identifica-se o fator de
situacionalidade ao permitir ao leitor identificar o evento textual à situação,
quer no aspecto cultural, quer no ambiente onde se desenvolve a trama: a
primeira se passa em uma delegacia; a outra, na cela de um presídio. Também cumprem
os objetivos das intenções dos autores, o que nos leva à conclusão que se
cumpriu à risca a sua intencionalidade.
Por
serem textos com várias republicações em blogs e veículos de comunicação afins,
também podemos afirmar que estão em conformidade com os parâmetros conceituais
da aceitabilidade, cujas ideias se completam em perfeita harmonia da coerência
e da conectividade prepositiva da coesão.
Analisando
o primeiro texto, Atitude Suspeita, de Fernando Veríssimo, o próprio título já dialoga com o jargão policial quando não
há acusação formal que justifique a apreensão de um cidadão: atitude suspeita.
Também se evidencia o diálogo com a Constituição Federal quando fica explícita
a negação da presunção de inocência, reforçada pela declaração do delegado ao
dizer que é suspeito o acusado se declarar inocente. Existe também a
intertextualidade implícita à expressão "a coisa está preta" e ao
provérbio português "o feitiço virou-se contra o feiticeiro", que é o
desfecho dessa crônica.
A
segunda crônica, Para Lennon e McCartney, é a intertextualidade explícita do
título que Márcio Borges deu a uma música composta por ele e Fernando Brant, em
que remete o leitor ao diálogo de uma época em que se vivia o desejo pleno da
liberdade utópica e a linda juventude de então atuava como protagonista da
história, não cabendo papel secundário nem coadjuvantes nesse enredo. Lógico
que, as personagens de Luís Pimentel, dois detentos, não contextualizam a
intencionalidade da canção. O autor usa da antítese dos seus protagonistas para
determinada situação, transportando o leitor para a ambientação de uma época em
que o rock'n roll era o fator determinante no grito de rebeldia e clamor de liberdade.
Também a intertextualidade musical se faz presente na música "Era um
garoto que como eu amava os Beatles e Rolling Stones", versão da música
italiana de Giani Morandi e que uniu os jovens do mundo todo na resistência
contra a guerra do Vietnã.
O
campo semântico se contextualiza na “tribo” das personagens, cujo diálogo se
traduz pelo jargão policial ou pela linguagem própria de presidiários. Ambas,
usam como pano de fundo a insegurança jurídica e constitucional, onde, na
crônica de Veríssimo, o cidadão é culpado até provar a sua inocência, enquanto
na de Pimentel o cidadão é recolhido ao presídio por uma presunção de crime. O
porte de arma não configura crime.
A
atemporalidade desses dois textos é transparente na nossa realidade atual, cujas
pessoas são detidas por uma simples acusação de “suspeito”. Isso nos remete à
triste constatação de que o cotidiano se repete nessa eterna crônica de negação
da cidadania e as “atitudes suspeitas” grassam no nosso dia a dia.
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