quinta-feira, 1 de março de 2018

O texto na sala de aula - Geraldi - resenha



INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS – IFAL
LICENCIATURA EM LETRAS
RONALDO ANTONIO TORRES CRUZ






 


A PRÁTICA DA LEITURA NA ESCOLA


Esta resenha é uma atividade da disciplina Projetos Integradores II, sob a orientação do professor Antônio Cícero de Araújo e se refere ao capítulo A prática da leitura na escola, do livro “O texto na sala de aula”, de João Wanderley Geraldi.










MACEIÓ
2017


Na introdução do capítulo Prática de Leitura na Escola, o autor defende seu ponto de vista centrando seus argumentos em três práticas sustentadas em trabalhos seus anteriores, que são: Leitura, produção de textos e análise linguística, cujos objetivos são dois: transpor os limites da escola no tocante ao ensino artificial da linguagem e possibilitar o “domínio efetivo da língua padrão em suas modalidades oral e escrita”. Para ele, dominar a língua em situação concreta de interação dentro de determinado contexto, é diferente do domínio da língua sobre determinados conceitos e metalinguagens. Dentro dessa premissa, tece críticas à artificialidade da prática escolar na atividade da aprendizagem linguística: “[...] assumem-se papeis de locutor/interlocutor durante o processo, mas não se é locutor/interlocutor efetivamente [...]”. 

Aponta o falseamento da interlocução escolar e a anulação do receptor da mensagem, o “tu” da interlocução, segundo o que ensina Benveniste (1976, p. 286): “A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito remetendo a ele mesmo como eu no seu discurso”, ou seja, a pessoa que fala e a pessoa a quem se fala, o eu/tu, no caso específico, o professor é o “eu” quando fala, e o aluno o “tu”, quando escuta, invertendo-se os papeis quando é o aluno quem fala, porém a constante repetição torna o aluno mero reprodutor do professor, anulando o sujeito e transformando a linguagem em algo artificial. 

Ainda neste contexto, Bourdieu, também ensina que os professores são autoridades frente aos alunos e assim se tornam legitimadores das mensagens que transmitem, e a ação pedagógica torna-se meios diretos de constrangimento e imposição de significados, transformando os alunos em agentes reprodutores sem o devido domínio da língua.

Geraldi também critica a postura em se ignorar as diferenças e se colocar todos os alunos no mesmo nível de conhecimento, como se o mundo fora dos muros da escola fosse de igualdade para todos. Tal crítica, nos remete mais uma vez à teoria bourdiana do capital cultural e da violência simbólica praticada em sala de aula, que nada mais é que a cultura dominante agindo sobre o processo educacional, pois desconsideram o que se pretende ensinar e não levam em consideração o conhecimento de mundo que cada aluno tem.

No tópico “A prática de leitura”, antes de propor qualquer sugestão metodológica, o autor conceitua a leitura sem ir de encontro à concepção de linguagem enquanto procedimento comunicativo e cognitivo. Dá voz a Marisa Lajolo, cujo enunciado “ler é extrair significados” (Lajolo, apud Geraldi, 2011, p. 91), relaciona-se à prática da leitura de outros textos como leitor autônomo, capaz de construir seu próprio sentido. Para Geraldi, “A leitura é um processo de interlocução entre autor/leitor, mediado pelo texto”. E ilustra sua argumentação com uma frase utilizada por Marilena Chauí em uma conferência em São Paulo, “O diálogo do aprendiz de natação é com a água, e não com o professor, que deverá ser apenas mediador desse diálogo aprendiz-água. Na leitura, o diálogo do aluno é com o texto, o professor, mera testemunha desse diálogo, é também leitor, e sua leitura é uma das leituras possíveis (Chauí, 1983, apud Geraldi, 2011, p. 92). Mas nem tudo é tão simples assim. Uma breve leitura nas “Estratégias de leitura”, de Isabel Solé (2012) observa-se que a autora oferece uma série de reflexões para a prática ideal de leitura, as quais se destacam a motivação do professor para tornar a leitura um ato prazeroso e voluntário, saber articular diferentes situações de leitura (oral, coletiva, individual, silenciosa, compartilhada), acompanhar os alunos na leitura, construir níveis de desafios adequados ao conhecimento deles e, o principal, motivá-los para a prática de leitura dando-lhes sentido no que irão ler.  

O autor ainda estabelece três tipos de relação do leitor com o texto:

Na primeira, intitulada “A leitura – busca de informação”, discorre sobre a leitura, cuja finalidade é tão-somente extrair informação do texto. Nesse caso, é patente a artificialidade da leitura nas aulas de língua portuguesa em relação à leitura de textos de outras disciplinas. O autor sugere dois níveis de profundidade a serem aplicados em casos assim: extrair informações superficiais do texto ou extrair de um modo mais profundo, construindo relações com outros textos.

A segunda, chamada “A leitura – estudo do texto”, o autor reconhece que a primeira postura é mais aplicada em outras disciplinas, e menos em aula de português. E faz um roteiro analítico baseado no princípio filosófico da dialética, a tese, a antítese e a síntese, que, em suas palavras, tornaram-se “tese”, “argumento”, “contra-argumento” e “coerência entre tese e argumento”, usando como exemplo de leitura o artigo “Muito pouco para tantos”, publicado no jornal Folha de São Paulo no dia 06/05/1979, e que consta como “Apêndice 1”, deste seu livro.

A terceira traz como título “A leitura do texto - o pretexto”, que, segundo o autor, o pretexto envolve uma rede muito grande de questões e é o que serve como ponto de partida para produção de outros textos, como, por exemplo, ler no jornal a notícia de um crime e depois escrever um artigo sobre a violência.

A quarta e última relação do leitor com o texto, “A leitura – fruição do texto” trata da troca da leitura como castigo para a leitura prazerosa e voluntária, sem a imposição ditatorial de agentes externos. O professor não deve usar a leitura como instrumento de tortura, mandar o aluno ler determinado livro como castigo, mas fazer fruir a leitura como fonte de prazer. Para se chegar a esse objetivo, Geraldi construiu três princípios básicos:

O primeiro princípio, “O caminho do leitor”, é o primeiro passo e se deve respeitar o ritmo de leitura do aluno e considerar o nível de compreensão de cada leitor, buscando sempre afinidades entre leitor/texto.

O segundo, intitulado “O circuito do livro”, sugere a criação de um circuito de interação entre leitores fora da escola, e que eles próprios troquem informações e recomendações de leitura. O professor deverá promover o rodízio de livros entre os alunos.

O terceiro e último princípio, “Não há leitura qualitativa no leitor de um livro só”, classifica as várias leituras como fator determinante para a qualidade de leitura. É a leitura de várias obras que leva o leitor a ter conhecimento de mundo e o torna um leitor crítico, capaz de enxergar a intertextualidade intrínseca em todas as obras literárias, o que não acontece com quem tem pouca leitura. O autor sugere um maior número de leituras, mesmo que a interlocução não seja a almejada pelos professores.

Conclusão: Visto que a leitura é uma prática social em que se insere o processo de recriação e reconstrução de ideias, há um contraponto nesse último princípio de fruição de texto a partir do momento em que se prioriza a quantidade de leitura em detrimento da qualidade, negando a “concepção de que autor e leitor são sujeitos ativos que dialogam, que se constroem e são construídos no texto, que é considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores” (Bakhtin, 2003; Geraldi, 1993; Kock e Elias, 2006. Apud Menegassi), portanto, é incompreensível submeter o aluno a uma overdose de leitura sem que haja um critério dialógico leitor/texto que permita ao primeiro extrair do segundo todo seu potencial de significados.



Referências bibliográficas:

GERALDI, João W. Prática da leitura na escola. In: O texto na sala de aula. 5º Ed. São Paulo: Ática, 2011, p. 88 a 103.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 14 Ed. p.22. Campinas, SP: Pontes, 2012.
OLIVEIRA, Nadjane G. SANTANA, Maily dos Santos. OLIVEIRA, Edson Luís G. de. Por uma educação além da reprodução: contributo do pensamento de Pierre Bourdieu. https://www.ufrb.edu.br/sppgcs2015/images/trabalhos/Artigo_NadjaneOliveira_UFRB.pdf.  Visitado em 04/06/2017
MENEGASSI, Renilson José. Avaliação de leitura: Construção e ordenação de perguntas. Art. Univ. Est. de Maringá.



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