INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS – IFAL
LICENCIATURA EM LETRAS
RONALDO ANTONIO TORRES CRUZ
A PRÁTICA DA
LEITURA NA ESCOLA
Esta resenha é
uma atividade da disciplina Projetos Integradores II, sob a orientação do
professor Antônio Cícero de Araújo e se refere ao capítulo A prática da leitura na escola, do livro “O texto na sala de aula”, de João Wanderley Geraldi.
MACEIÓ
2017
Na introdução
do capítulo Prática de Leitura na Escola,
o autor defende seu ponto de vista centrando seus argumentos em três práticas
sustentadas em trabalhos seus anteriores, que são: Leitura, produção de textos
e análise linguística, cujos objetivos são dois: transpor os limites da escola
no tocante ao ensino artificial da linguagem e possibilitar o “domínio efetivo
da língua padrão em suas modalidades oral e escrita”. Para ele, dominar a
língua em situação concreta de interação dentro de determinado contexto, é
diferente do domínio da língua sobre determinados conceitos e metalinguagens.
Dentro dessa premissa, tece críticas à artificialidade da prática escolar na
atividade da aprendizagem linguística: “[...] assumem-se papeis de
locutor/interlocutor durante o processo, mas não se é locutor/interlocutor
efetivamente [...]”.
Aponta o
falseamento da interlocução escolar e a anulação do receptor da mensagem, o
“tu” da interlocução, segundo o que ensina Benveniste (1976, p. 286): “A
linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito remetendo
a ele mesmo como eu no seu discurso”, ou seja, a pessoa que fala e a pessoa a
quem se fala, o eu/tu, no caso específico, o professor é o “eu” quando fala, e
o aluno o “tu”, quando escuta, invertendo-se os papeis quando é o aluno quem
fala, porém a constante repetição torna o aluno mero reprodutor do professor,
anulando o sujeito e transformando a linguagem em algo artificial.
Ainda neste
contexto, Bourdieu, também ensina que os professores são autoridades frente aos
alunos e assim se tornam legitimadores das mensagens que transmitem, e a ação
pedagógica torna-se meios diretos de constrangimento e imposição de
significados, transformando os alunos em agentes reprodutores sem o devido
domínio da língua.
Geraldi
também critica a postura em se ignorar as diferenças e se colocar todos os
alunos no mesmo nível de conhecimento, como se o mundo fora dos muros da escola
fosse de igualdade para todos. Tal crítica, nos remete mais uma vez à teoria
bourdiana do capital cultural e da violência simbólica praticada em sala de
aula, que nada mais é que a cultura dominante agindo sobre o processo
educacional, pois desconsideram o que se pretende ensinar e não levam em
consideração o conhecimento de mundo que cada aluno tem.
No tópico “A prática de leitura”, antes de propor
qualquer sugestão metodológica, o autor conceitua a leitura sem ir de encontro
à concepção de linguagem enquanto procedimento comunicativo e cognitivo. Dá voz
a Marisa Lajolo, cujo enunciado “ler é extrair significados” (Lajolo, apud
Geraldi, 2011, p. 91), relaciona-se à prática da leitura de outros textos como
leitor autônomo, capaz de construir seu próprio sentido. Para Geraldi, “A
leitura é um processo de interlocução entre autor/leitor, mediado pelo texto”.
E ilustra sua argumentação com uma frase utilizada por Marilena Chauí em uma
conferência em São Paulo, “O diálogo do aprendiz de natação é com a água, e não
com o professor, que deverá ser apenas mediador desse diálogo aprendiz-água. Na
leitura, o diálogo do aluno é com o texto, o professor, mera testemunha desse
diálogo, é também leitor, e sua leitura é uma das leituras possíveis (Chauí,
1983, apud Geraldi, 2011, p. 92). Mas nem tudo é tão simples assim. Uma breve
leitura nas “Estratégias de leitura”, de Isabel Solé (2012) observa-se que a
autora oferece uma série de reflexões para a prática ideal de leitura, as quais
se destacam a motivação do professor para tornar a leitura um ato prazeroso e
voluntário, saber articular diferentes situações de leitura (oral, coletiva,
individual, silenciosa, compartilhada), acompanhar os alunos na leitura,
construir níveis de desafios adequados ao conhecimento deles e, o principal,
motivá-los para a prática de leitura dando-lhes sentido no que irão ler.
O autor ainda
estabelece três tipos de relação do leitor com o texto:
Na primeira,
intitulada “A leitura – busca de
informação”, discorre sobre a leitura, cuja finalidade é tão-somente
extrair informação do texto. Nesse caso, é patente a artificialidade da leitura
nas aulas de língua portuguesa em relação à leitura de textos de outras
disciplinas. O autor sugere dois níveis de profundidade a serem aplicados em
casos assim: extrair informações superficiais do texto ou extrair de um modo
mais profundo, construindo relações com outros textos.
A segunda,
chamada “A leitura – estudo do texto”,
o autor reconhece que a primeira postura é mais aplicada em outras disciplinas,
e menos em aula de português. E faz um roteiro analítico baseado no princípio
filosófico da dialética, a tese, a antítese e a síntese, que, em suas palavras,
tornaram-se “tese”, “argumento”, “contra-argumento” e “coerência entre tese e
argumento”, usando como exemplo de leitura o artigo “Muito pouco para tantos”,
publicado no jornal Folha de São Paulo no dia 06/05/1979, e que consta como
“Apêndice 1”, deste seu livro.
A terceira traz
como título “A leitura do texto - o
pretexto”, que, segundo o autor, o pretexto envolve uma rede muito grande
de questões e é o que serve como ponto de partida para produção de outros
textos, como, por exemplo, ler no jornal a notícia de um crime e depois
escrever um artigo sobre a violência.
A quarta e
última relação do leitor com o texto, “A
leitura – fruição do texto” trata da troca da leitura como castigo para a
leitura prazerosa e voluntária, sem a imposição ditatorial de agentes externos.
O professor não deve usar a leitura como instrumento de tortura, mandar o aluno
ler determinado livro como castigo, mas fazer fruir a leitura como fonte de
prazer. Para se chegar a esse objetivo, Geraldi construiu três princípios
básicos:
O primeiro
princípio, “O caminho do leitor”, é
o primeiro passo e se deve respeitar o ritmo de leitura do aluno e considerar o
nível de compreensão de cada leitor, buscando sempre afinidades entre leitor/texto.
O segundo,
intitulado “O circuito do livro”,
sugere a criação de um circuito de interação entre leitores fora da escola, e
que eles próprios troquem informações e recomendações de leitura. O professor
deverá promover o rodízio de livros entre os alunos.
O terceiro e
último princípio, “Não há leitura
qualitativa no leitor de um livro só”, classifica as várias leituras como
fator determinante para a qualidade de leitura. É a leitura de várias obras que
leva o leitor a ter conhecimento de mundo e o torna um leitor crítico, capaz de
enxergar a intertextualidade intrínseca em todas as obras literárias, o que não
acontece com quem tem pouca leitura. O autor sugere um maior número de
leituras, mesmo que a interlocução não seja a almejada pelos professores.
Conclusão:
Visto que a leitura é uma prática social em que se insere o processo de
recriação e reconstrução de ideias, há um contraponto nesse último princípio de
fruição de texto a partir do momento
em que se prioriza a quantidade de leitura em detrimento da qualidade, negando
a “concepção de que autor e leitor são sujeitos ativos que dialogam, que se
constroem e são construídos no texto, que é considerado o próprio lugar da
interação e da constituição dos interlocutores” (Bakhtin, 2003; Geraldi, 1993;
Kock e Elias, 2006. Apud Menegassi), portanto, é incompreensível submeter o
aluno a uma overdose de leitura sem que haja um critério dialógico leitor/texto
que permita ao primeiro extrair do segundo todo seu potencial de significados.
Referências
bibliográficas:
GERALDI, João W. Prática da leitura na
escola. In: O texto na sala de aula.
5º Ed. São Paulo: Ática, 2011, p. 88 a 103.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 14 Ed. p.22. Campinas, SP:
Pontes, 2012.
OLIVEIRA, Nadjane G. SANTANA, Maily dos Santos. OLIVEIRA,
Edson Luís G. de. Por uma educação além
da reprodução: contributo do pensamento de Pierre Bourdieu. https://www.ufrb.edu.br/sppgcs2015/images/trabalhos/Artigo_NadjaneOliveira_UFRB.pdf. Visitado em 04/06/2017
MENEGASSI, Renilson José. Avaliação de leitura: Construção e ordenação de perguntas. Art.
Univ. Est. de Maringá.
http://docplayer.com.br/21778293-Avaliacao-de-leitura-construcao-e-ordenacao-de-perguntas.html Visitado em 25/06/2017